Algo muito comum em nosso atendimento são os pacientes questionarem o motivo da escolha por determinado tipo de tratamento. Enfatizo que, não apenas hoje, mas há algumas décadas, a “opinião pessoal do expert” diminuiu de importância diante da Odontologia Baseada em Evidências.
Não quero descartar a experiência clínica. Ela ainda é importante, mas deve estar ancorada na melhor evidência científica.
Um exemplo para comparação:
Imagine que um médico pediatra pedisse exame de Tomografia Computadorizada do pulmão para toda criança que chegasse tossindo em seu consultório.
Imagine se ele decidisse fazer tratamentos invasivos, modificando as estruturas dos tecidos dos pulmões ou da garganta.
Provavelmente, ao término do tratamento, os resultados a curto e, até a longo prazo, poderiam ser semelhantes . Mas fica a pergunta : Precisava?
Neste caso o que faz o médico? Ele faz a residência, especializa-se em Pediatria, adquire treinamento e, através de critérios validados para avaliar o paciente , chega ao diagnóstico.
Assim, antes de decidir pelo tipo de tratamento, ele avalia o paciente. Ele faz anamnese, exame físico; e, se necessário, decide por cirurgias ou pede exames de imagem para as crianças com sintomas de tosse.
E na Dor Orofacial ?
Na Dor Orofacial todos batem o seu martelo de tratamento, e, ” tudo o que está na frente do martelo é prego”.
Não importa o diagnóstico !!, não importam todos os diferentes sub-tipos de DTM!! ( artralgias , inflamatórias , reumáticas, secundárias a neoplasias, dores miofasciais, com limitação , sem limitação, deslocamentos de disco, com redução, sem redução, limitações estruturais, !!), não importa se a cefaléia é primária ou secundária!!, não importa se a dor é aguda ou crônica!!, se existe ou não sensibilização central!!, se o quadro é de alodínia ou de hiperalgesia!!, não importa se a dor é neuropática!!, miofascial!! ou de outras origens………..
Portanto, como podemos eleger um determinado e único tipo de tratamento para diagnósticos tão diferentes?
O x da questão:
A que tipo de avaliação o paciente foi submetido? Como a DTM e a DOR Orofacial foi classificada? Através de que tipo de abordagem ? Quais foram os métodos para o diagnóstico?
Infelizmente ainda encontramos formadores de opiniões que defendem o seu “achismo” ou acreditam no “mito” repetido tantas vezes na literatura e que, pela repetição, vira verdade. No caso específico da DTM temos vários exemplos de mitos:
1) Exame de imagem :
Se a Tomografia computadorizada mostrar o côndilo na posição posterior , vai comprimir a zona bilaminar e gerar dor.
2) Temos 5 má oclusões classificadas que” causam ” DTM:
Mordida aberta anterior, mordida cruzada unilateral, ausência de dentes posteriores, e por aí vai… etc (Avaliar com cautela a tão antiga e propagada Review McNamara Jr. 1995 )- Não estabelece relação para qual sub-tipo de DTM ! , e o própio autor não é conclusivo em seu achado.3) Exame de imagem :
_ Voce tem sub-luxação do côndilo , na abertura máxima, ele ultrapassou o vértice da eminência e o seu queixo pode cair!
4) _ Se voce não tratar a sua má oclusão , ou não fizer a cirurgia ortognática que eu estou lhe propondo, na velhice, sofrerá fortes dores na cabeça!
5) _ Isso que você sente: labirintite, zumbidos, dor na coluna, dor na cabeça, dor nos braços são sintomas de quem tem “ATM” ou tem “má oclusão”.
Esses mitos mal esclarecidos se tornam um verdadeiro campo minado de iatrogenias e sobre-tratamentos para tratar uma doença ( neste caso DTM) caracterizada por remissão espontânea e regressão à média.
A partir destes conceitos , cada profissional, utilizando da sua especialidade , promove o seu tratamento. Alguns dizem: “A Ciência engessa a clínica”. Como podemos culpar o conhecimento científico de engessar a clínica? O que a Odontologia Baseada em Evidências faz é submeter a testes todos os tipos de teorias e técnicas , sem discriminação.
Só que o caminho inverso também deveria ser respeitado, ou seja , o profissional deveria estar atento à literatura validada. Deveria entender melhor de que maneira um paciente com queixa de Dor deveria ser avaliado, antes de implantar determinado tipo de tratamento.
Como avaliar os pacientes com queixa de dor?
Que tipo de anamnese e exame físico devemos fazer para chegar ao diagnóstico?
Há respostas para essas perguntas. Existem critérios estabelecidos e validados para avaliação dos pacientes com Dor.
Isto precisa ser de conhecimento do clínico antes da escolha de tratamento.
Para respaldar o que está escrito acima, transcrevo texto de Charles S. Greene
– Transferência Científica na Dor Orofacial–
Dor Orofacial- Da Ciência Básica à Conduta Clínica
Pubilcação de Charles S. Greene do capítulo 28 , pag 232
Quadro 28-3